Aikido: A Arte Marcial da Harmonia.

                                                                                                  Aikido Dai Shizen Dojo                                                                                                                                             em Santana  -  Zona Norte - SP

 
 

 

    

 

Nós do Dai Shizen Dojo agradecemos seu interesse em treinar Aikido conosco, porém informamos que as nossas aulas e atividades estão temporariamente suspensas. 

   Se você quiser conhecer o Aikido tradicional, recomendamos:  
 
Samuru Dojo 
 www.samuru.com.br
Rua Tanque Velho, 2325 -   Fone (11) 2528-4327
Tucuruvi - São  Paulo - SP



Muito Obrigado. 

Sensei Emerson.



                             O que é Aikido?

 

É uma Arte Marcial originária do Japão, criada em 1942  pelo Mestre Mohihei Ueshiba (1883-1969), que concentrou nela toda a essência do conjunto de artes Marciais japonesas (Budô) . Tem por objetivo coordenar ás atividades conjuntas do Corpo e da Mente, em profunda unidade com as Leis da Natureza ( Daí Shizen), ao mesmo tempo que proporciona ao seu praticante o domínio das técnicas de concentração e relaxamento, possibilitando o combate ao “ Stress ”, a defesa pessoal e a de terceiros, a manutenção da saúde e a longevidade.

As técnicas do Aikido são cheias de vigor, energia e eficiência, mas seguindo sempre o princípio da não–violência e abstenção de forca bruta. Assim sendo, pessoas de ambos os sexos podem praticá-lo, com a real possibilidade de treinar a Mente e o Corpo, forjando um caráter equilibrado, preparado para quaisquer situações da vida. É uma defesa pessoal extremamente eficiente, cujo objetivo principal é fazer com que o homem aprenda a utilizar sua energia vital ( KI ), reencontrando-se consigo mesmo, curando-se das doenças físicas e mentais, enfim, atingindo a felicidade.

    Por que praticar AIKIDO ?

·         O Aikido é ensinado para a polícia do Japão, dentre outros países, como Defesa pessoal e imobilização de delinquentes.

·         Não exige força física : A técnica correta do Aikido permite pessoas mais fracas enfrentarem e dominarem pessoas mais fortes.

·         Pode ser praticado por pessoas de qualquer idade: homens, mulheres e crianças, sendo também um ótimo formador de caráter e disciplina.

·         É uma Arte Marcial pura: Não permite as competições.

·         Ë utilizado em vários filmes de ação, destacando-se os do ator norte –americano Steven Seagal (7o Dan e Mestre internacional de Aikido)

·         É um caminho de Iluminação Espiritual e de melhoria Psico/Bio/ Física.

·         A prática ocorre em um ambiente cordial e de bom nível.

·         O praticante é reconhecido internacionalmente através de certificados vindo diretamente do Hombu Dojo,  sede mundial do Aikido, localizado em Tóquio, Japão.

 


        Principais caracteristicas do Aikido:



            1. Antes de mais nada, é importante ressaltar que no Aikido não existe competições                 (conflito de egos), já que todos se unem em busca de um espírito forte, crescimento interno e aproximação com a natureza e seus princípios.

           2. Apoia-se sob o princípio da suavidade, que ensina que devemos sempre aproveitar a força do oponente e redirecioná-la, nunca ir contra ela.

           3. Através de um treinamento persistente e disciplinado, o praticante aprende a usar a força do adversário e conduzi-la para onde quiser.

          4. Existem momentos corretos de se investir contra o adversário. Esses momentos são aprendidos no KOKYU (momento certo). O KOKYU é fundamental para que o praticante aprenda a encaixar suas técnicas sem fazer o uso de força.

          5. A percepção do ritmo do adversário e a busca do aperfeiçoamento do KOKYU são muito importantes, bem como a utilização da energia “KI”, inerente a todo ser humano.

          6. No treinamento do Aikido, os praticantes revezam-se, alternando papéis de atacante e defensor. As técnicas são executadas de maneira calma e confortável, porém de maneira sincera. Treina-se sempre com parceiros diferentes. Não há problema quando treinam juntos homens e mulheres, gordos e magros, idosos e jovens.

           7. Com esse tipo de treinamento, aprende-se a lidar com qualquer tipo de oponente ou adversidade, encaixando melhor as técnicas de acordo com cada indivíduo ou situação.

           8. Três fundamentos do treino : colaboração (ajudar e ser ajudado pelos parceiros na busca do aperfeiçoamento), conforto (técnicas aplicadas de maneira prudente) e cortesia (pensar nos outros).

           9. As técnicas são caracterizadas por movimentos esféricos, livres e espontâneos. Os movimentos de corpo baseiam-se em giros e esquivas. Chaves de pulso, contra ataques (atemi), projeções e imobilizações, dentre outras, também são técnicas usadas pelo Aikido.

          10. O principal objetivo da arte marcial é nos desenvolvermos como pessoas e não satisfazer o nosso ego nem destruir ou causar danos ao oponente.

          11. O Aikido é uma Arte Marcial extremamente eficiente, porém também se torna muito útil quando aplicada nas mais diversas situações de conflito em nossa vida diária.


Regras de etiqueta e comportamento no Dai Shizen Dojo

1. É responsabilidade de todos manter as regras tradicionais de conduta no Dojo. Este espírito vem do Fundador e deve ser respeitado, honrado e mantido.

2.Todos temos responsabilidade em criar uma atmosfera positiva de harmonia e respeito. Assim, devemos evitar que nossas atitudes ofendam os outros. Por exemplo, se alguém por convicções religiosas não quer reverenciar  o kamizá, pode  pedir para que entre após o cumprimento ter sido feito e saia antes do cumprimento final. Ou mesmo, pode pedir que seja  desobrigado desta reverência, por exemplo;

3. O Dojo não deve ser utilizado para outro fim a que se destina, salvo expressa autorização do sensei;

4. A limpeza é uma oração de agradecimento, é dever de todos executar a limpeza física (antes e depois do treino) e do coração de todos. Isto é SHUGYO (purificação do espírito) e ensina disciplina;

5. É decisão do Sensei quando ele deve ensinar alguma técnica. Não se pode comprar técnicas. A  mensalidade (OREI) é uma pequena parcela para ajudar a pagar as despesas para o local de treinamento e é uma forma muito pequena de demonstrar a gratidão do aluno ao mestre por seus ensinamentos;

6. Respeitar, Respeitar, Respeitar, é um pensamento contínuo no Dojo.

7. É um dever moral de todos usar as técnicas para fins pacíficos visando sempre construir. Você deve exercitar sua percepção ao tentar enxergar a aplicação (tanto de defesa pessoal como  de relacionamento) presente em cada princípio/técnica demonstrados;

8. Não deve haver conflitos do ego no tatame. Aikidô não é um ringue de competição de vaidade. Não pode haver algo do tipo: “eu consigo fazer a técnica em você, mas duvido que você a execute em mim”;

9. A insolência jamais será tolerada, devemos ter consciência de nossas limitações. Quando o professor corrigir sua técnica, permaneça em seiza e ao término da instrução diga: DOMO ARIGATO!

10. Cada pessoa tem condições e razões diferentes para treinar. Devemos respeitar suas expectativas.

11. Não é educado  contra argumentar com o sensei. Mas o assunto pode ser discutido se ele assim permitir. Se o argumento/instrução dele lhe convencer, agradeça (DOMO ARIGATO) e volte a treinar. Se for admoestado,  peça desculpas: GOMEN NASAI!  E volte a treinar;

12. A não ser que suas convicções religiosas o impeçam, faça a reverência ao Kamizá ao entrar e sair do Dojo.

13. Respeite seu uniforme de treinamento, deve estar sempre em boas condições e de aparência.

14. O Dojo não é uma praia, sente-se sempre em seiza ou com as pernas cruzadas no estilo japonês ( posição de lótus), no caso de ter problemas no joelho.

15. Quando o Sensei demonstra uma técnica, fique sempre em Seiza, após, faça uma reverência, agradeça (DOMO ARIGATO, SENSEI) e  comece imediatamente a praticar.

16. No início de cada técnica, cumprimente seu parceiro(ONEGAI SHIMASS)

17. Quando o final de uma técnica é assinalada, cumprimente o parceiro (DOMO ARIGATO)e vá imediatamente para seu lugar de início da aula.

18. Se for absolutamente necessário perguntar algo ao Sensei, vá até ele, não o chame para si. Se o problema for a execução de uma técnica, tente primeiro observar os outros. Se mesmo assim não conseguir, primeiro mostre como você entendeu a técnica. Depois ele o auxiliará.

19. Respeite os sempai, jamais discuta se as técnicas estão erradas ou não. Lembre-se que você está treinando para aprender, não para satisfazer o seu ego. Adote uma postura receptiva e humilde, porém não bajuladora.

20. Se você não é Yudansha, não corrija ninguém.

21. Não converse em cima do tatame. Aikidô é experiência.

22. Não se deve usar jóias, mascar coisas no tatame. Além do corpo somente se usa o uniforme

23. Se você chegou atrasado, vista-se rapidamente, vá para o inicio do tatame  e - na posição de seiza - aguarde até o sensei permitir que você entre no tatame. Cumprimente-o com ONEGAI SHIMASS

24. Não seja atingido. Não permita ser socado, chutado, agarrado, derrubado ou posto no chão. Aikido é controle do inicio ao fim. Quando você permite que lhe toquem (qualquer que seja a forma) está perdendo parte desse controle. Mas não exagere nos golpes e movimentos para não ferir os colegas de treino. Ninguém entra numa aula de aikido para servir de "saco de pancadas" de alguém.

25. O treino mais vigoroso é reservado aos graduados. Tenha paciência. Aguarde. O seu dia chegará.

26. Se comparecer a uma aula/demonstração/seminário com um professor diferente, lembre-se de seguir a forma que está sendo demonstrada no seminário e não a que você aprendeu em seu dojo original. A capacidade de se adaptar também faz parte do aikido.

27. Ao se matricular no Aikido, você deve possuir obrigatoriamente um Dogi (Kimono) branco simples, adquirido em qualquer loja de esportes ou na Loja Kimonos Dojo* - www.kimonosdojo.com.br - na Casa Verde - Zona Norte. Recomendo esta loja por ter um preço baixo e um ótimo atendimento e qualidade.

*Rua Francisco Marinho, 232 - Casa Verde - São Paulo - SP  Fones 3965-1552 e 3858-6725


Lembre-se: Se você não concordar com essas regras, não estará apto a treinar conosco.


 Entrevista com o Sensei Emerson dada a um Jornal de São Paulo:


Quando a opção modifica o comportamento: 



"Modalidade de arte marcial se diferencia das demais por oferecer filosofia de vida"

 

"O professor é dotado de serenidade tal que - apesar de seu tamanho e feições típicas do ocidente - tem-se a impressão de estar na presença de um pequeno um senhor de traços orientais. Os alunos, de frente para ele, ficam no lado oposto da sala.  Todos em posição seiza. Um deles é convidado a se aproximar de seu sensei (mestre).  Sem se levantar, o aprendiz rasteja pelo tatame, em um movimento alternado de pés e joelhos. Palavras de aprovação são proferidas. O aluno é parabenizado por sua mudança de faixa (Kyu); uma conquista que vem da superação não do outro pela força , mas de si mesmo pela técnica. A conquista é tomar o oponente por parceiro, a derrota dos inimigos internos e o aprendizado de uma filosofia de vida por meio do corpo.

Uma aula que começa no Brasil e termina no Japão.  A todo momento, os valores de respeito e disciplina, hoje estranhos a cultura ocidental, são reforçados pelo sensei Emerson Zacarella, praticante de Aikido há quase 20 anos: “Muitas das artes marciais que vieram para nosso país perderam a característica da disciplina para se adaptar ao gosto do brasileiro, que adora informalidade. Aqui não. A primeira coisa que eu respeito é a disciplina, tanto é que nós ainda somo ligados ao Japão”. Membro da Federação Brasileira de Aikido ( FEBRAI) desde 2002, ele diz que certos cuidados como reverências, rituais e pontualidade de uma arte oficializada em 1948 - inspirada em modalidades como o Daito Ryu Aikijujutsu- são mais uma forma de aprendizado da paciência e humildade. “ Hoje a gente vive em uma sociedade de resultados rápidos. Além disso, as pessoas não gostam de se submeter, de reverenciar. A pessoa não está se submetendo. Ela está apenas agradecendo o local de treino e uma pessoa que te indicou um caminho” - fala Emerson referindo-se ao fundador do Aikido,  Morihei Ueshiba.

Diferente das lutas e demais artes marciais, o Aikido é uma prática que tem por finalidade a doutrinação da mente pelo físico: “O corpo ensina a mente”, explica Emerson. A repetição constante dos exercícios e a ausência de noções de vitória e derrota contribuem para o aprendizado que prima pelo equilíbrio. Outro ponto marcante é a questão da força: “Ao meu ver, no Aikido não é necessária a força física, muito pelo contrário: quanto mais força pior é a técnica. E a técnica desta arte é fluída,  onde, por meio de movimentos circulares, o praticante absorve e devolve para o parceiro a energia que nele foi projetada”, e exemplifica “ quando uma pessoa me pega, ela , de alguma maneira, tem a intenção de me conduzir para alguma direção. Eu não preciso brigar, eu vejo a direção para onde ela quer me conduzir e vou, mas da minha maneira. Daí eu consigo imobilizá-la. Parece meio contraditório porque a gente fala em luta e não tem força. Mas o fundador desta arte marcial, percebeu que é melhor se harmonizar com a situação e chegar junto a um consenso. A técnica é mais ou menos assim”,  diz o professor.

A filosofia da prática no local de treino se transporta para o cotidiano do aprendiz, que aprende a lidar com situações de medo, preocupação e estresse. “ A gente tem idéia de que este tipo de atividade é para destruir. No Aikido não se destrói nada, você se une ao seu parceiro. E isso acaba refletindo na sua vida onde você passa a não querer mais competir com os demais”diz o sensei. Ele mesmo confessa ter tido muita dificuldade no começo do treinamento, mas que hoje se tornou mais centrado: “ O Aikido muda muita coisa, principalmente na personalidade. Eu me tornei uma pessoa muito mais paciente, mais calma. Eu vejo o pessoal treinando e ninguém teve mais dificuldade no começo que eu. Eu tive muita dificuldade. Talvez tenha sido por isso que eu persisti”, ele ri."


Entrevista á Milena Sartorelli.  

 


            Os Segredos do Aikido


   Morihei Ueshiba, o fundador do Aikido, certa vez disse a um grupo de alunos veteranos: “Venham ao dojô amanhã de manhã, às cinco horas; vou revelar-lhes os segredos do Aikido”. No dia seguinte, os alunos chegaram na hora marcada, esperando ansiosamente a revelação de um segredo que os tornaria invencíveis como o mestre – então eles seriam capazes de enfrentar dez oponentes ao mesmo tempo e de imobilizar o adversário mais forte com um único dedo. Morihei pediu aos alunos que se sentassem e começou a expor os segredos do Aikido. Empregando um simbolismo vibrante, alegorias encantadoras e associações estimulantes, por mais de uma hora Morihei discorreu sobre temas como a criação do Universo, o poder vivificante dos sons-espíritos, a alquimia sutil do fogo e da água, a necessidade de serenar o espírito e retornar à Fonte, a natureza transformadora da mente e a unificação do corpo, e sobre outros mistérios que faziam parte da sua experiência pessoal. Inesperadamente, ele sorriu com suavidade e concluiu: “Esses são os segredos do Aikido”. Fez então uma profunda reverência diante do altar do dojô, saudou os presentes e se retirou rapidamente da sala.

Os alunos ficaram desnorteados com as palavras do mestre. Os que tinham a expectativa de aprender alguma proeza extraordinária ou de receber as palavras de uma fórmula mágica estavam ressentidos: “Ele não nos mostrou nada – nem uma única técnica, e nada de concreto que se possa usar!”.

A intenção de Morihei fora a de revelar o Aikido como uma epifania profunda e maravilhosa, e não como um mero sistema de empurrões, de bloqueios e imobilizações. Morihei quis dizer que, se o praticante não aprender a essência do Aikido, as técnicas jamais se transformarão em vida.

Texto do livro “Os Segredos do Aikido” de John Stevens



Uma Resposta Branda: O Aikido na Prática

Por Terry Dobson*

 

 “O trem atravessava sacolejando os subúrbios de Tóquio numa tarde de primavera. Nosso vagão estava comparativamente vazio: apenas algumas donas de casa com seus filhos e uns velhos indo fazer compras. Eu olhava distraído pela janela a monotonia das casas sempre iguais e das sebes cobertas de poeira.

Chegando a uma estação, as portas se abriram e, de repente, a quietude da tarde foi rompida por um homem que entrou cambaleando no nosso vagão, gritando com violência imprecações incompreensíveis. Era um homem forte, encorpado, com roupas de operário. Estava bêbado e imundo. Aos berros, esbofeteou uma mulher que carregava um bebezinho. A força do tapa fez com que ela fosse cair no colo de um casal idoso. Só por um milagre nada aconteceu ao bebê.


Aterrorizado, o casal deu um pulo e fugiu correndo para a outra extremidade do vagão. O operário tentou ainda dar um pontapé na velha, mas errou a mira e ela conseguiu escapar. Isso o deixou em tal estado de fúria que agarrou a haste de metal no meio do vagão e tentou arrancá-la do balaústre. Pude ver que uma das suas mãos estava ferida e sangrava. O trem seguiu em frente, com os passageiros paralisados de medo. Eu me levantei.

Na época, cerca de vinte anos atrás, eu era jovem e estava em excelente forma física. Vinha treinando oito horas de Aikidô quase todos os dias há quase três anos. Gostava de lutar corpo a corpo e me considerava bom de briga. O problema é que minhas habilidades marciais nunca haviam sido testadas em um combate de verdade. Nós, alunos de Aikido somos proibidos de lutar.

"Aikido", - meu mestre não cansava de repetir, "é a arte da reconciliação. Aquele cuja mente deseja brigar perdeu o elo com o Universo. Se tentarem dominar as pessoas, estarão derrotados de antemão. Nós estudamos como resolver conflitos, não como iniciá-los."

Eu ouvia essas palavras e me esforçava. Chegava a atravessar a rua para evitar os arruaceiros, os pungas dos videogames que costumam vadiar perto das estações de trem. Ficava exaltado com minha própria tolerância e me considerava um valentão reverente, piedoso mesmo. No fundo do coração, porém, desejava uma oportunidade absolutamente legítima em que pudesse salvar os inocentes destruindo os culpados.

- Chegou o dia! - pensei comigo mesmo enquanto me levantava. Há pessoas correndo perigo e se eu não fizer alguma coisa é bem possível que elas acabem se ferindo.

Quando me viu levantando, o bêbado percebeu a chance de canalizar a sua ira.

- Ah! - rugiu ele. ­ Um estrangeiro! Você está precisando de uma lição em boas maneiras japonesas!

Eu estava de pé, segurando de leve nas alças presas ao teto do vagão, e lancei-lhe um olhar de nojo e desprezo. Pretendia acabar com a sua raça, mas precisava esperar que ele me agredisse primeiro. Queria que ficasse com raiva, por isso curvei os lábios e mandei-lhe um beijo insolente.

- Agora chega! ­ gritou ele. ­ Você vai levar uma lição. ­ E se preparou para me atacar.

Mas uma fração de segundo antes que ele pudesse se mexer, alguém deu um berro:

- Ei!

Foi um grito estridente, mas lembro-me que tinha um estranho timbre, jubiloso e cadenciado, como quando estamos procurando alguma coisa junto com um amigo e ele subitamente a encontra: "Ei!"

 

Virei para a esquerda, o bêbado para a direita. Nós dois olhamos para um velhinho japonês que estava sentado em um dos bancos. Esse minúsculo senhor devia ter bem mais de setenta anos, e vestia um quimono impecável. Não me deu a menor atenção, mas sorriu com alegria para o operário, como se tivesse um importantíssimo e delicioso segredo para lhe contar.

- Venha aqui ­ disse o velhinho num tom coloquial e amistoso. ­ Vem aqui conversar comigo ­ insistiu, chamando-o com um aceno de mão.

O homenzarrão obedeceu, mas postou os pés beligerantemente diante dele e gritou por cima do barulho das rodas nos trilhos:

- Por que diabos vou conversar com você?

Ele agora estava de costas para mim. Se o seu cotovelo se movesse um milímetro que fosse eu o esmagaria. Mas o velhinho continuou sorrindo para o operário.

- O que você andou bebendo? ­ perguntou com os olhos brilhando de interesse.

- Saquê! ­ rosnou de volta o operário ­ e não é da sua conta! ­ completou, lançando perdigotos no rosto do velho.

- Que ótimo ­ retrucou o velho. ­ Excelente mesmo. Eu também adoro saquê! Todas as noites, eu e minha esposa aquecemos uma garrafinha de saquê e vamos até o jardim nos sentar num velho banco de madeira. Ficamos olhando o pôr-do-sol e vendo como vai indo o nosso caquizeiro. Foi meu bisavô quem plantou essa árvore, e estávamos preocupados achando que ela não fosse se recuperar das tempestades de gelo do último inverno. Mas a nossa arvorezinha saiu-se melhor do que esperávamos, ainda mais se considerarmos a má qualidade do solo. É gratificante olhar para ela quando levamos uma garrafinha de saquê para apreciar o final da tarde, mesmo quando chove!

E olhava para o operário, seus olhos reluzentes. O rosto do operário, que se esforçava para acompanhar a conversa do velhinho, foi se abrandando e seus punhos pouco a pouco relaxando.

- É, é bom. Eu também gosto de caqui... ­ mas sua voz acabou num sumiço.

- São deliciosos ­ concordou o velho sorrindo. ­ E tenho certeza de que você também tem uma ótima esposa.

- Não ­ retrucou o operário. ­ Minha esposa morreu.

Suavemente, acompanhando o balanço do trem, aquele homenzarrão começou a chorar.

- Eu não tenho esposa, eu não tenho casa, eu não tenho emprego. Eu só tenho vergonha de mim mesmo.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto; um frêmito de desespero percorreu-lhe o corpo.

Chegara a minha vez. Lá estava eu, com toda a minha imaculada inocência juvenil, com toda a minha vontade de tornar o mundo um lugar melhor para se viver, sentindo-me de repente mais sujo do que ele.

O trem chegou à minha estação. Enquanto as portas se abriam, ouvi o velho dizer solidariamente:

- Minha nossa, que desgraça. Sente-se aqui comigo e me diga o que houve.

Voltei-me para dar uma última olhada. O operário escarrapachara-se no banco, a cabeça no colo do velhinho, que afagava com ternura seus cabelos emaranhados e sebosos.

Enquanto o trem se afastava, sentei-me num banco da estação. O que eu pretendera resolver pela força fora alcançado com algumas palavras meigas. Eu acabara de presenciar o Aikido num combate de verdade, e a sua essência era o Amor. A partir de agora teria que praticar a arte com um espírito totalmente diferente. Muito tempo passaria antes que eu voltasse a falar sobre a resolução de conflitos.”

  

*Terry Dobson, o autor e protagonista desta história, foi um o primeiro americano a treinar com O fundador do Aikido, Morihei Ueshiba e um dos poucos ocidentais que foram uchi-deshi e aluno direto dele.

 
 
 


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